Depois de muito tempo sem postar por questões de vida corrida (kkk), me obriguei a voltar para conversar um pouquinho.

O motivo? Assisti ao filme “Sexy por Acidente” e decidi que já era hora de falar sobre o protagonismo das mulheres gordas nas atuais comédias românticas.

Antes de tudo, faço questão de mencionar: estou gorda desde os 14 anos de idade, quando parei de praticar natação por conta de recorrentes inflamações no ouvido. E hoje, no auge dos meus 28 anos, ainda tenho sérios conflitos com o espelho e com minha consciência e auto estima para mudar minha situação. No meu caso, por conta de estética( sim!) e por conta da saúde.

Falo que estou, apesar deste período ser quase uma vida inteira, pois sabemos que é algo que se quisermos, podemos modificar. O “ser” é algo que convida ao conformismo. “Sou o que sou e me aceitem assim” sempre foi minha vontade, mas esse murro em ponta de faca em particular, a vida tem me desestimulado a cessar.

Apesar do desestímulo do preconceito cotidiano em relação ao “se amar mesmo estando acima do peso”, as comédias românticas atuais tem colocado como protagonistas atrizes gordinhas, na maioria das vezes legitimando o velho clichê do meu dia a dia mas com um frescor de representação que dá gosto de assistir.

Claro que, em algumas partes, ainda pecam. O que eu acho até aceitável pois ter que passar anos e anos sendo a personagem coadjuvante motivo de chacota e de repente ser colocada como atenção principal de uma trama, não é algo fácil de arquitetar sem que restem sequelas visíveis.

Dentre os pecados, alguns estão no enredo em si e outros estão na livre interpretação do público que assiste.

No filme ” Sexy por Acidente”( I Feel Pretty) a protagonista Reene passa a se aceitar e ver a beleza que há em si depois de cair de cabeça em uma aula de Spinning. Ok, é comédia…vale tudo. Mas sério? Insinuar mesmo que temporariamente que a pessoa só poderia se amar do jeito que estava se sofresse um quase traumatismo craniano soa até como insulto.

Outro problema deste mesmo filme está no pretendente da protagonista, o Ethan. A construção do personagem deu a entender que ele só passou a aceitá-la como opção amorosa dele depois da aceitação de desconhecidos. Sem contar que, por se sentir também meio deslocado entre os núcleos sociais de sua vida, vislumbrou nela uma possível aceitação de si. E só. Como se ninguém fosse capaz de amar uma pessoa acima do peso a menos que tivesse problemas pessoais de aceitação.

Ah Hollywood…tens tanto a aprender… ( mas assistam, gente. O filme é divertidíssimo.)

Um exemplo de defeito na livre interpretação do telespectador acontece no filme ” Sierra Burgess é uma loser”. Claro que aqui estou eu defendendo a Sierra apesar de tudo que ela foi capaz de fazer porque…bom…porque se você é uma adolescente gorda e tem problemas de auto-aceitação você em algum momento da vida já se viu no lugar da Sierra. E se você nunca passou por isso, deveria agradecer. Não julgá-la.

Não, não acho que a Sierra é santa nem glorifico suas ações como se fossem as mais corretas do mundo. Mas, por favor, vocês já estão à anos glorificando Regina George mesmo sabendo que a personagem é uma víbora. Mas como ela é o esteriótipo de tudo o que você já desejou ser nos tempos de colegial, você esquece as maldades e aceita pela beleza. A Sierra? é considerada pelos telespectadores de comédia romântica como uma loser de verdade e da pior espécie.

Sim, eu sei que é assim também na vida real. A estética as vezes safa as pessoas mais cruéis de julgamentos justos, mas ridiculariza pessoas comuns só por elas não estarem no padrão. É pedir muito que essa consciência mude?

Parece que sim.

Mas só há críticas a fazer? Ainda bem que não.

Apesar de estarmos a passos lentos nesse protagonismo em filmes, já há exemplos dignos e memoráveis a citar. De enredo e de construção de personagens.

É o caso da protagonista do filme Dumplin’ e de sua história, originalmente baseada em um best seller de mesmo nome, escrito por Julie Murphy. A escritora é gordinha e sabe bem sobre tudo o que escreveu. Talvez até por isso tudo tenha ficado tão cuidadoso e singelo no filme.

Você reconhece os clichês sociedade porque, pasmem, eles sempre estarão lá. Alguém te olhando de atravessado por você ousar achar que pode se sentir maravilhosa e linda. Alguém dizer que você nem deveria estar ali. Censura, preconceito, chacota…sempre haverão em todos os filmes como infelizmente existem na vida real.

Mas em Dumplin, tudo é representado com uma força tão presente de mudança vitória e aceitação de si que você sai do filme com um abraço bem dado e lágrimas nos olhos.

Mas eu falo por mim, gorda, me sentindo representada por cada uma delas. Sierra(Sierra Burgess é uma loser), Reene( Sexy por Acidente), Willowdean(Dumplin’), Natalie( Isn’t it Romantic) ou qualquer uma protagonista vivida pela doce e linda atriz Melissa McCarthy que já está nessa luta de protagonismo à anos e já foi bem criticada por isso.

Vocês, que nunca foram gordas ou que até já desdenharam, fizeram chacota, ironizaram pessoas assim, assista esses filme com carinho. Não é uma realidade distante, nada de outro mundo. E você percebe em todos os filmes o quanto uma palavra de incentivo ou uma consciência maior do “poder ser e fazer o que quiser”, podem mudar a vida de alguém.

E palavras que destroem, insultos e indiferença podem destroçar nossa psique e nossa capacidade de viver.

Não tenho como dizer como esses filmes tem modificado o olhar de muitos em relação à pessoas obesas como eu. Talvez só sejam mais um motivo para continuarem os insultos, ou se tornem realmente um poderoso meio de mudança comportamental.

Depende mais de nós do que do filme em si. Mas por enquanto, eles tem feito um bom trabalho. Com alguns erros pontuais sim, mas com mensagens dignas de se levar pra vida, esteja você gordinha ou não.

“Ah, mas você falou no início do texto que tá se esforçando pra mudar sua situação. Que moral você tem pra falar sobre isso?”

A moral de quem tem certeza de que a vida seria melhor se as pessoas cuidassem da própria vida e deixassem cada um viver a sua da melhor forma. A felicidade e o bem estar não está só no fim dos objetivos, como no fim dos filmes. Ela tem que estar sempre disponível.

Amor próprio faz bem e deve ser cultivado em qualquer situação.

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